Logística e Automação: Examinar o Futuro
Se analisarmos os últimos dez anos, as mudanças tecnológicas que foram sofridas a nível industrial deixaram uma enorme marca no panorama logístico, transformando este sector numa vantagem competitiva e eliminando o seu papel tradicional. Até há apenas alguns anos atrás, a logística era vista como um sector invisível e, embora estratégica, pouco valorizada, o que teve um impacto direto na conceção económica da atividade, vista como um "custo" dentro da cadeia. Hoje, porém, a importância que está a ganhar é maior e é agora percebida como um fator chave que proporciona uma vantagem competitiva sobre o cliente.
Atualmente, já imersos numa quarta revolução industrial que está a utilizar tecnologias existentes para alcançar ecossistemas mais interligados, as previsões para a próxima década não estão muito longe do nível de mudança e incerteza que estamos a viver. No entanto, neste ambiente, há dois aspetos essenciais para compreender para onde vamos em termos industriais e intralogísticos nos próximos dez anos.
Estratégias Postponement para o futuro dos armazéns
Um dos pontos principais será a evolução da atual forma de planeamento da procura - que começa com a previsão - para uma reação eficiente da cadeia de abastecimento. As operações serão, portanto, baseadas numa resposta ágil e dinâmica às exigências específicas e individualizadas dos consumidores. Para conseguir esta reação eficiente, as novas cadeias de abastecimento - com os seus respetivos centros de distribuição - terão um grau de automatização muito elevado e, na maioria dos casos, gerirão unidades de armazenamento de pequenos lotes - com exceção de grandes indústrias e fabricantes - deixando para trás o armazenamento de grandes volumes paletizados. Estes pequenos lotes serão o resultado de uma estratégia de " postergação ", que visa dar uma resposta personalizada a cada consumidor, mas com custos contidos para a adaptação final.
Além disso, os centros de distribuição serão possivelmente separados dos centros de produção, que se dedicarão quase exclusivamente a este fim, com áreas logísticas concebidas para fazer uma preparação inicial das encomendas e uma entrega rápida aos centros de distribuição. Dentro destes centros, um ponto que irá sem dúvida evoluir é o da logística inversa ou dos devoluções. Este é um processo sem valor acrescentado dentro da cadeia de abastecimento que tem atualmente um forte valor comercial, mas, ao mesmo tempo, um custo elevado e será altamente automatizado.
Um futuro onde a conectividade não será uma escolha
A principal diferença em relação aos equipamentos atuais será na gestão de dados e conectividade. Os equipamentos não só estarão ligado aos diferentes sistemas de gestão da empresa, tanto ERP (i.e. SAP) como WMS (i.e. sistemas de gestão de armazém) permitindo reagir às exigências dos clientes de uma forma muito mais rápida e eficaz, mas estas mesmas equipas serão capazes de tomar decisões com base nos requisitos específicos de cada momento para se adaptarem e fornecerem um serviço ao cliente de maior qualidade. Deixaremos, portanto, para trás os AGV que hoje conhecemos para dar lugar a equipas muito mais independentes, capazes de avaliar diferentes cenários e agir em conformidade; sem a necessidade de uma supervisão sustentada por um empregado.
Consequentemente, muitas das funções administrativas serão também automatizadas, permitindo ao cliente contactar diretamente os centros de distribuição. Isto resultará, em muitos casos, no desaparecimento de empresas intermediárias. Contudo, esta automatização não será mecânica, será redundante, se não progressiva, e exigirá novos perfis profissionais dentro das organizações. A antecipação destas necessidades futuras e o investimento contínuo em formação por parte das empresas permitir-lhes-á uma transição mais natural e menos abrupta para a automatização.
A independência dos equipamentos acima mencionado será gerada graças ao desenvolvimento da Inteligência Artificial e dos Big Data. Em qualquer caso, a conectividade e a geração e análise de dados existirão desde o início da cadeia de abastecimento, até à receção pelo cliente - incluindo centros de produção logística e equipamentos de transporte e manutenção. Isto permitirá, em primeiro lugar, que o cliente tenha absoluta visibilidade do processo produtivo e logístico do seu produto e, em segundo lugar, que as diferentes empresas que compõem a cadeia de abastecimento - tanto direta como indiretamente - estejam totalmente ligadas e partilhem automaticamente os dados gerados. Na maioria dos casos, está mesmo previsto que o cliente poderá conhecer as despesas ambientais envolvidas na produção e distribuição do seu produto.
A nível tecnológico é difícil prever que tecnologias serão incorporadas, uma vez que se houve uma evolução nos últimos anos em qualquer área, foi nesta e na gestão e processamento de dados. Será que 6G virá depois de 5G? Tanto o MIT como a UIT (União Internacional de Telecomunicações) já estão a estudar novos protocolos de comunicação. Algumas das novas soluções propostas podem ser comunicações holográficas. Estes desempenhariam um papel importante em qualquer campo, desde a distribuição até à indústria, agricultura, educação e entretenimento.
Em suma, a robótica dos equipamentos de movimentação será muito mais importante do que aquilo a que estamos a assistir atualmente. A logística será uma das áreas de crescimento mais rápido na próxima década, uma vez que os hábitos dos consumidores estão a mudar para as compras on-line e a entrega a curto prazo. Este aumento do peso da logística trará um estudo detalhado dos processos e, consequentemente, a procura de eficiência, que passa inevitavelmente pela automatização. A automatização otimiza os recursos e aumenta a qualidade do serviço.
Artigo escrito por Igor Arbonies Trigos, Gestor de Projeto Intralogística na Linde Material Handling Ibérica